domingo, 21 de novembro de 2021

Crônicas do Novo Normal: Amores e Cegos



Esses dias eu vi mais uma série bosta de Netflix, esta chamada "Casamento às Cegas". Tornou-se, penso eu, um tipo de esporte entre as pessoas que saem pouco de casa e enfrentam essa pandemia interminável, buscar séries lixo que você possa apenas assistir e não refletir tanto, não pensar nos milhões de mortos, na inflação galopante, no desemprego batendo às portas. 

Apesar disso, não consigo realmente ficar sem pensar em alguma coisa, deve ser mal de estudante de Humanas. Então eu via a série e me assustava, porque ali em plena netflix, eu via uma série de pessoas entregues a um experimento completamente insano, pondo em jogo sua própria saúde emocional, Só por um pouco de companhia. Uma aposta alta, baseada em falsidades, para uma conquista vã. 

É fácil pensar nessas pessoas como estúpidas (deus sabe que eu fiz isso), mas se a gente pensar bem, quanto de nós mesmos não está ali? Esse desespero, essa fome por afeto, carinho, companhia? Eu fico pensando muito nisso. Quando mudei para São Paulo, eu passei muito por isso, e suspeito que muitas pessoas que vagam por essas terras passaram e ainda passam por isso. Não é a toa que Roberto Pompeu de Toledo chamou São Paulo da "Capital da Solidão", e que Criolo cantou destas terras: "Não Existe Amor em SP". É uma cidade cruel às vezes, esmagadora sempre, ainda mais com quem acabou de chegar e não conhece ninguém. 

Mas será que é só Sampa mesmo que é assim? Vendo esse programa, e pensando na vida, fico imaginando que o mundo em si é assim agora, lugares cheios de almas tão vazias, citando novamente Criolo. Que menos que amor, o que a maioria tem em seu peito é angústia, e quando duas pessoas se juntam em suas angústias e terrores, acham companhia, e confundem isso com amor. 

Ou será que isso foi o amor mesmo, desde sempre, e eu que não sabia identificar? 

Fica a dúvida. 


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