quinta-feira, 24 de junho de 2021

Crônicas do Novo Normal: Where is my mind


Há muito o que se dizer sobre o estado mental das pessoas nos tempos atuais, e nada do que se fale será realmente algo que mostre a situação por completo. E nem estou falando de como ficamos durante a pandemia; mesmo antes, eu sempre tive a impressão que temos uma percepção dolorida do mundo que vivemos, e que isso aos poucos vai comendo a nossa mente, distorcendo nossa visão do mundo. 

Ou talvez, eu que seja o pessimista. Sempre é uma possibilidade!

De qualquer forma, acho que é inegável que esta pandemia nos afetou mentalmente a todos de maneiras diversas, alguns mais diretamente (por perderem entes queridos), outros pela pura e simples sensação de isolamento, de vazio da vida. Tenho certeza que todos já vivemos pelo momento do vizinho barulhento em plena pandemia, fazendo aquelas festas altas que são talvez sua forma de gritar que está vivo, que nada teme. Uma estratégia tola, é verdade, mas que muitos seguiram e seguem ainda. 

Outra estratégia, que talvez tenha sido um pouco mais disseminada, foi a de se fechar em si mesmo. E quando digo fechar, não quero dizer  que ficamos sem contatos muito profundos com pessoas ao redor, sem TV ou notícias ou algo assim; apesar de haver realmente pessoas assim, não creio que elas são em maioria. Não, eu me refiro à anestesiar-se mentalmente, buscar dentro de sua própria mente o refúgio dos horrores e estresses que temos sofrido. 

Essa é uma ação um tanto fácil de se fazer: afinal, com a internet literalmente em nossas mãos (graças aos smartphones), não faltam formas de perdemos tempo com redes sociais,  conversas aleatórias em Whatsapp, ouvir música em apps... todas boas formas de se perder em si mesmo, testadas e aprovadas desde antes da pandemia. Alguns nem precisam disso: posso garantir que você conhece uma ou mais pessoas que simplesmente "desaparecem" dentro da sua própria cabeça no meio de uma conversa; são os profissionais de desligamento pessoal, conseguindo flutuar suas mentes quase sem nenhum esforço. 

Falo disso com tranquilidade, porque faço parte deste clube: mais de uma vez eu fugi para dentro de mim mesmo, em momentos que considerei tediosos, confusos ou "carregados" demais emocionalmente. Estes últimos são os mais perigosos: o indivíduo pode ver-se perigosamente viciado em fugir das emoções para dentro de sua cabeça, como se ela fosse uma espécie de bunker protetor contra o mundo. Em momentos drásticos como o que vivemos, pode ser tentadora demais essa fuga, independente de quem tenha ficado aqui fora, esperando o retorno do viajante psíquico. 

Como você foge do mundo ultimamente? 


3 comentários:

  1. Concordo. Cada um de nós desenvolvemos uma forma de "proteção" ou "fuga", conforme descrito. Toda reação é muito íntima e particular. Enquanto a grande maioria interioriza, Eu prefiro exteriorizar, com ações voluntárias de ajuda humanitária, contemplando a beleza dos lugares que desbravo e conversando e disponibilizando o meu ouvir às pessoas, pq aprecio muito os pequenos universos que somos. Nos meus momentos em q preciso extravasar, me isolo e choro compulsivamente, numa verdadeira faxina interna. Me reorganizo e retorno às minhas atividades cotidianas. Outro ponto da minha vida que valorizo muito é que não possuo uma rotina regular. Vivo num improviso quase que diário e isto me ajuda muito no desenvolvimento de outras ferramentas de defesa mental e emocional. Dizem que é a resiliência. 😉

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  2. Acredito que as minhas formas de fuga têm sido das mais variadas: desde os clássicos, como a leitura, os filmes e séries, até os descobertos recentemente, como ver vc jogando videogame, cuidar das plantinhas e, claro, os memes! Hahhaa
    Creio também que a fuga é fundamental nesse momento ou, pelo menos, devemos saber quando dar uma pausa em tudo isso.

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  3. Concordo plenamente com seu texto, a minha fuga tem sido através do estudo, aprender coisas novas tem sido muito bom para aguentar tudo isso. Quando não estou ocupando a minha cabeça, me sinto completamente perdida, num mundo que eu desconheço.

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