sábado, 19 de junho de 2021

Crônicas do Novo Normal: Contemplem o Homem Jacaré


Sextas Feiras são, de praxe, um dia feliz para mim. Como não seriam? É o fim de uma semana de trabalhos difíceis (ser professor é bem cansativo...), e o começo do fim de semana, onde posso passar um pouco mais de tempo com minha esposa, me preocupar tranquilamente com os trabalhos da semana seguinte, com quem pode ou não ficar doente desta doença maldita, e com sorte posso parar e escrever um pouquinho no meu caderno de ideias e contos que um dia serão publicados. Um fim de semana típico para mim. 

Esta sexta, porém, foi um dia bem incomum, para dizer o mínimo. Para começo de conversar, eu estava vindo do dia anterior de uma entrevista no canal  de Youtube 1001 Capítulosda queridíssima Sandra Souza; então eu já estava com o humor bem nas alturas. Mal sabia eu que esta sexta seria ainda melhor, pois foi o dia que consegui tomar minha primeira dose da almejada vacina anti-covid. Sim amigos, eis que entrei no clube do jacarezados deste país, ou melhor, entrei pela metade, ainda falta a segunda dose para completar minhas escamas. 

O processo, diga-se, não foi muito fácil: Foi necessário brigar com a burocracia brasileira, antes de mais nada, até conseguir pegar uma declaração da minha comorbidade (asma, para quem não sabe). Então foi uma questão de irmos até a tendinha da Drogaria São Paulo, chegar lá e .... não sermos atendidos, porque a vacina ali já tinha acabado. Sem problemas: andamos, eu e minha esposa, até o posto de saúde ao fim da Avenida Rio Pequeno, que contava com duas filas, uma para preencher o cadastro, e a outra para as vacinas. Não uma visão que se queira ver quando se está nervoso. 

Apesar de tudo, vencemos as filas, as senhas, o ter de falar mais alto que o normal porque a máscara cobre sua voz.... e lá fui eu ser vacinado. Minha esposa, infelizmente, ainda não pôde; a ela caberá a vacina em Agosto aqui no estado de São Paulo. Isso, contudo, não a impediu de chorar muito, e assim ela o fez por um bom caminho até nossa casa. É alívio e felicidade, ela disse. "Por esse tempo todo, eu estava preocupada com você, se você ia ficar doente com isso. Agora eu vejo uma luz".

O amor é engraçado: estou feliz que fui vacinado, mas não consigo me sentir satisfeito, porque minha esposa não foi ainda, nem meus pais e entes queridos, pelo menos não por completo. Assim, acho que minhas lágrimas só devem vir nesses momentos, quando eu ver que realmente o pesadelo acabou. A felicidade só é real quando acompanhada, creio eu.  

Além disso, enquanto eu e minha esposa subíamos a Avenida Rio Pequeno nesta tarde fria de São Paulo, não pude deixar de pensar nas pessoas que se foram sem ter a oportunidade de tomar a vacina também - e é claro que as primeiras que vem à mente são as que lhe são mais próximas. 

Então, em nome dos que se foram e dos que ficaram, tornei-me um Jacaré. Que todos nós possamos ser uma nação réptil em breve, e que esta época terrível comece a ficar um pouco pra trás, para podermos começar a curar uma parte tão devastada quanto nossos corpos: nossas mentes. 



Um comentário:

  1. É verdade,a cada pessoa amada,querida que recebe a primeira dose da vacina ou já a segunda,eu também fico com essa mistura de sensações no peito, a alegria e a tristeza acredito que isso seja o sentimento de empatia.

    ResponderExcluir