domingo, 31 de janeiro de 2021

Crônicas do Novo Normal: Manual de fuga do verão



Hoje fez mais de 34 graus aqui em São Paulo, sem vento nem nada, parecia que a cidade inteira estava com febre, sofrendo. Todo ano, entre Janeiro e Fevereiro isso acontece e eu, que moro aqui a mais de 5 anos, não tenho a menor ideia ainda de como reagir a este inferno. 

Quer dizer, eu tenho alguns planos meio falhos, sendo o de sentar em frente a um ventilador o mais comum (é da marca Mondial, se serve de indicação). O sucesso dessa empreitada desesperada é sempre dúbio: se de um lado eu realmente me sinto mais refrescado, por outro é só sair do raio de ação do eletrodoméstico que o calor bizarro retorna, e o corpo não abe muito bem como lidar com isso. Ademais, vem o calafrio de se lembrar da conta de luz que vai vir no final do mês - mas como isso já dá um certo arrepio, conto como uma ação positiva no combate ao calor. Refrigério é refrigério. 

Em dias como esse, é necessário seguir a prática aperfeiçoada dos brasileiros, que é tentar se distrair e ignorar o problema até ele ir embora. Música, nesse sentido, ajuda bastante; se você escolher, por exemplo, uma trilha de rock gótico ou coisa assim, pode fechar os olhos e até quase vislumbrar um castelo medieval feito em pedra.... a chuva lá fora, intermitente.... raios iluminando os salões... e o frio que tudo isso traria! Uma tática que exige muita imaginação, por certo, sem contar um conhecimento de mais bandas góticas que só The Cure. 




Você pode também apelar para uma música dançante e se sacudir todo/a pela sala de estar de sua residência, suando em bicas, para em seguida prostrar-se em frente a um ventilador e aproveitar o ar-condicionado natural que é uma pele molhada tomando vento. Existe, é claro, um risco forte de desmaiar, mas novamente conto isso como uma vitória - afinal, são menos alguns minutos num calor insuportável!

No fim das contas, pelo menos aqui na Pauliceia Desvairada, o truque é aguentar até o cair da noite, e a subsequente queda de temperatura. Então você deita na cama, faz lá suas orações, e dorme sonhando com montanhas frias e /ou boas brisas sentidas numa caminhada à beira-mar.... sonho que acaba assim que você acorda e sente sua pele toda preguenta! Águas de Março, venham fechar o verão com urgência!


quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

Crônicas do Novo Normal: Thank you, Mr DJ


 Existe uma grande confusão sobre qual o melhor tipo de música para se ouvir em momentos de trabalho, ou de stress, ou de dor. Alguns dizem que o Jazz facilita a concentração; outros dirão que clássicos da MPB e suas letras ricas e poéticas podem ajudar e muito no que concerne a expiar uma dor interna de um vivente. Eu acredito que podemos resumir tudo em uma só linha de pensamento, que sussurrarei para você a seguir:


Ninguém se importa. Ouça o que você quiser.  


Dito isso, é fato que certos tipos de música clamam por situações específicas. Por exemplo, heavy metal é um gênero mais pesado que não ficaria bem, digamos, em um funeral, a não ser que o defunto fosse um metaleiro pesado. Já um rock gótico combina bem com aquelas tardes chuvosas e sem esperança que só uma vida em uma metrópole brasileira angustiada por uma pandemia traz para você. Músicas infantis são uma boa pedida também, curiosamente: algo na inocência das letras falando de sorvete, chocolate e primeiro amor traz, ouso dizer, um pequeno brilho de... esperança? Alegria? O que quer que seja, recomendo a todo momento. 

Não que eu seja o sommelier de músicas que pareço ser ao falar disso. Diabos, eu nem mesmo estava ouvindo muita música até recentemente! Acho que já falei do quanto meus gostos estavam, digamos, estagnados no tempo, e de como busquei tentar me atualizar nesse sentido. Bom, um dos principais efeitos colaterais disso foi, justamente, me abrir mais para canções, ao ponto de, oh não, ter realmente assinado uma conta conjunta de Spotify com Aline, minha parceira eterna! 

Tem sido divertido montar playlists junto com ela, pensando em canções que marcaram nossa vida até aqui, piadas internas, danças de momentos de faxina. Mas também tem sido muito interessante montar playlists pessoais, pensar em temas, rever momentos da vida através das canções. Que músicas devo botar, por exemplo, na playlist "Collective Nostalgia"? E que tal na que eu pus o singelo nome de "Sadness"? Não parece, mas isso tudo te leva para uma jornada emocional, que talvez você não esteja esperando. Por isso, recomendo esta atividade apenas nos fins de semana, quando você pode ter seus flashbacks de guerra sem se preocupar em atrasar-se para o trabalho.

No fim de tudo, música é emoção. Então a pergunta que você tem que se fazer não é "qual a música mais certa", e sim "Qual emoção eu quero sentir representada hoje"?



segunda-feira, 25 de janeiro de 2021

Crônicas do Novo Normal: A Nostalgia Necrofílica da Arte



Não sei se vocês perceberam ou se importam, mas o youtube tem uma parte que mostra quais foram as músicas mais ouvidas durante um determinado ano. 

(Quer dizer, estou supondo que é a cada ano, eu só vi o de 2020. )

Enfim, eu estava olhando ali para ver se havia alguma música mais recente que eu pudesse gostar. recentemente eu entrei numa fase mais musical, e percebi que estava com gostos musicais um pouco, digamos retrógrados. A playlist anos 70/80 estava altíssima, a de coisas mais recentes bem baixa, e de repente um exemplo de banda recente para mim era o Maroon 5, e os caras começaram em 2001! Talvez fosse uma hora de renovação, sei lá. 

Qual não foi minha surpresa quando grande parte das músicas mais ouvidas em 2020 eram, justamente, de hits antigos? Ou isso, ou pessoas que estavam com uma estética mais retrô, como o The Weeknd com o álbum novo dele. De qualquer forma, não era bem o que eu esperava, mas foi algo que me deixou bastante empolgado. De fato, até me fez ouvir muito mais música que em anos anteriores; mas isso é algo que eu deixo para falar depois. 


Meu ponto agora é: Como estamos voltados para o passado! Eu pensei ser apenas eu, mas me parece que boa parte dos usuários de youtube também compartilham desta fome do passado, de arte musical do passado. Me pergunto por quê; e como sempre faço quando estou com uma pergunta em minha mente, conversei com Aline Garcia, minha parceira e guru nas horas vagas. No que ela me disse: 

- Às vezes as pessoas estão voltando para trás e tentando ver aonde que tudo deu errado! 

Concordei, e não parei de pensar nisso. Em como olhamos para trás, em coisas que antes considerávamos superadas, mortas, e agora encontramos algo novo, algo que nos conforte, nos console. Longe de mim falar mal disso - afinal de contas, como eu mesmo falei, meus gostos musicais são particularmente antiquados, não dispenso um bom best hits dos anos 70. Mas tem sempre algo estranho nesse posicionamento, como se estivéssemos com medo de encarar o presente, e talvez até o futuro mesmo. Eis algo para pensarmos a respeito. 

sábado, 23 de janeiro de 2021

Crônicas do Novo Normal: Fugavision


Pouca gente sabe, mas eu converti minha esposa para o lado nerd da força quando nos casamos. Não que ela goste de TUDO que é lançado (e às vezes vomitado) pelas empresas, mas ela desenvolveu um carinho especial pelos filmes Marvel. Assistimos juntos alguns filmes em preparação para ver Guerra Infinita e depois, Ultimato. Ela gosta dos personagens, e do jeito que eles são desenvolvidos; assim, não é nenhuma surpresa que ela e eu estivessemos ansiosos por uma série nova no Disney +: WandaVision.

É uma série bastante diferente, admita-se: para começo de conversa, você espera uma  história super-heróica, e recebe uma homenagem à sitcoms antigas; até o momento foram feitas homenagens às décadas de 50, 60 e 70. Junto disso, há algo nefasto ocorrendo por detrás das cenas: Wanda, a personagem principal, parece ter distorcido a realidade de uma pequena cidade em torno de usa própria ideia de um mundo perfeito (que é baseado, curiosamente, em séries de humor estadunidenses). Para os nerds, é o deleite puro dos quadrinhos, para telecpectadores mais velhos, quase que uma série toda baseada em uma premissa do Além da Imaginação. De qualquer forma, há de tudo um pouco para todos (e as partes de humor são engraçadas mesmo!)

Fonte: Collider 



Não pude deixar de perceber, porém, o timing tão certo dessa série. Em um mundo cada vez mais caótico, quem não sente vontade de fugir para dentro de si, para seu mundinho perfeito? Eu mesmo já cansei de fazer isso, entre quadrinhos, jogos, e literatura. Acho que todos nós temos o nosso canto perfeito, ali dentro da mente; um espaço de conforto todo nosso, intocável pelas devastações do mundo real. E talvez seja salutar tê-lo; pelo menos eu posso falar de experiência própria, que em mais de uma vez essa "fuga" foi fundamental para eu me recuperar de algum choque maior. 

O problema, creio eu, é quando machucamos outras pessoas nesta busca pelo conforto próprio. Talvez ignorando uma pessoa querida que poderia ter um pouco de apoio em um momento crítico; talvez simplesmente envolvendo indevidamente pessoas que não tem nada a ver com seus dramas, em uma narrativa de raiva, ou às vezes afeto sem propósito, como acontece com tantas pessoas desvirtuadas que creem que perseguir uma pessoa é sinal de amor. De qualquer forma, fuga de realidade, como tudo na vida, não deve ser levada ao excesso. Porque senão, a alternativa é negar o próprio mundo ao seu redor, e acredito que estamos de certa forma, com nossos políticos e nossos negacionistas a pleno vapor vendo o quanto isso pode ser negativo. E WandaVision, de seu próprio jeitinho peculiar, parece estar tocando nesses aspectos negativos. Veremos se consegue finalizar tão bem quanto começou! 

Fonte: Den of Geek



quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

Crônicas do Novo Normal: As crenças políticas opostas


A gente gosta de fingir que estamos num bloco só de pessoas com pensamentos semelhantes, mas a verdade é que, dentro de um coração, existem aqueles que nós queremos bem mesmo com todas as probabilidades contrárias. Nestes tempos de Crise então, quando começamos a descobrir como indivíduos agem sob pressão, é algo ainda mais dramático essa percepção, porque vemos esses seres humanos fazendo uma besteira atrás da outra, saindo nas ruas quase que agarradas uns nos outros, sem proteção sem vergonha na cara. 

E eu sei bem como é ver isso e se frustrar; porque , quer queiramos, quer não, essa pessoas, esses queridos idiotas, fizeram parte da sua infância, ou adolescência, ou o que seja. Bem ali, o seu tio, que estava do seu lado te apresentando quadrinhos e desenhos; mais adiante, um pai ou mãe que foram essenciais em moldar seu caráter. Talvez também não seja algo tão dramático quanto um familiar: talvez, mesmo, seja um velho amigo que tornou-se trumpista sabe-se lá Deus por que, já que nem estadunidense o sujeito é; ou um amigo bolsonarista que insiste em defender cloroquina quando nem mesmo o presidente o faz mais. 

Essa é uma questão que não acontece só aqui: há relatos e relatos de pessoas nos EUa que perderam praticamente seus entes queridos para aquela pataquada toda de Qanon, e a crença que Donald Trump, o milionário, estava lutando pelos mais pobres contra os capitalistas. Óbvio que desde ontem um monte de crenças caiu por terra e alguns estão aos poucos buscando entender que sim, eles foram enganados. Outros porém, recusam-se a admitir a derrota, e prometem ficar ainda mais radicais os anos seguintes. E eles tem suporte: neonazistas literalmente estão se mostrando de braços abertos para eles serem acolhidos e despejarem sua fúria contra minorias. 

E nesses momentos precisamos saber o limite que temos. Não é possível querer salvar a alma de quem não quer nem sequer ser salvo, ou nem mesmo admita que precisa de ajuda. Ainda há pessoas com esse pensamento, de tentar mudar a cabeça dessas pessoas, de acolhê-las antes de grupos como neonazistas, mostrar um pouco de compaixão. E eu não nego que isso seja possível, tentar ver como um extremista chegou a seu atual ponto de vista. Mas não posso dizer que haja simpatia. Não podemos esquecer que essas pessoas, direta ou indiretamente, apoiam medias políticas opressoras extremas, só pelo mero ato de "ganhar" uma discussão contra pessoas que eles discordam. Que apoiam ações de extermínio, quando dizem que não deveria haver julgamentos e sim execuções sumárias. Que pouco ou nada se importam com as pessoas que morreram de covid, porque se o fizessem, teriam muito mais compaixão que o que demonstram. 

O ente querido que se radicalizou está, pelo menos por hora, perdido. Diga tchau, e deixe ele seguir o caminho dele, por mais que doa. Se um dia ele vier para um caminho mais iluminado, terá de ser pelos seus próprios passos.

terça-feira, 19 de janeiro de 2021

Crônicas do Novo Normal: Uma Nova Esperança


2021, apesar dos pesares, tem se mostrado uma espécie de versão com esperança de 2020. Até mesmo em situações estapafúrdias como nos EUA, onde quase houve um golpe de Estado por um bufão alaranjado, O medo anda lado a lado com a esperança do povo estadunidense de mudanças (ou pelo menos, de marasmo sem loucuras) que promete Joe Biden. Ao redor do mundo, caminhando atrás da nova variação da COVID que já assola o Reino Unido, vem a vacina, tão esperada quando aclamada, qualquer que seja sua origem. 

No Brasil, o clima é o mesmo, mas como sempre, tem-se o ranço do governo atual. Graças a este, Manaus sofre, e a vacina, que em teoria iria ser entregue hoje para começarem a vacinação, chegou mega-atrasada, e só deu para fazer umas vacinações simbólicas. Isso sem contar as fake news, que já pipocam, sobre o papel do Governo Bolsonaro na criação dessa vacina; do jeito que estão, só mostram o desespero dos bolsonaristas, tentando cantar a vitória pertencente a outro.

Apesar disso tudo, a esperança cresce nos brasileiros. Engraçado como isso se percebe nas pequenas coisas, seja na forma que as notícias são mostradas, seja na exaltação do pessoal (carregada de memes, claro) pelas redes sociais... o otimismo tomou conta das ruas. Isso pode ser perigoso, levar a uns exageros da galera nas ruas? Pode, mas acho que podemos tentar confiar um pouco no bom senso, talvez, e se permitir sentir a esperança chegando. Talvez seja algo que estivéssemos precisando mesmo, depois de um ano tão cheio de mortes e derrotas como foi 2020. 

É claro que precisamos nos manter vigilantes. Uma vitória não nos livra do perigo, e nem nos alivia do peso de tantas tragédias e mortes. Mas consideremos o começo de 2020, com a Austrália pegando fogo, e em seguida o Covid arrasando planos e vidas. A vacina, nesse sentido, funciona como um imã de boas coisas (ou talvez uma espécie de amuleto de sorte), além de nos proteger da doença mortífera. Que seus bons desígnios permaneçam e se cumpram. 

domingo, 17 de janeiro de 2021

Crônicas do Novo Normal: A culpa não é das estrelas



O Amazonas sufoca. Milhares de pessoas passando por uma necessidade extrema, a de respirar e não poder, pois não há oxigênio em tanques para os que estão entubados nos hospitais de lá. Vimos nessa semana como a solidariedade pode alcançar um nível incrível: artistas e pessoas buscando tentar ajudar essa comunidade, se esforçando ao máximo. Acabei de ler, por exemplo, que Gustavo Lima doou 150 tanques de oxigênio para Manaus; antes dele Whindersson Nunes se mobilizou também, e muitos outros.

Acho isso bonito, essa devolução para a sociedade. Esses são artistas que se solidarizaram e foram atrás de tentar resolver o problema. Mas sabe quem deveria ter feito mais? Isso mesmo, o presidente. Que preferiu dizer que já tinha feito tudo o possível e culpou a situação lá numa falsa falta de uso preventivo de um remédio que a própria Sociedade Brasileira de Infectologista (SIA) diz não ter nenhuma comprovação de efeito que evita o Corona. Ou seja, é um Presidente que como sempre, prefere ser um idiota a fazer o certo. 

Mas eu, por incrível que pareça, não vim falar de Bolsonaro, ou de seu ministro fantochinho, repetidor das palavras daquele que enfia um braço em seu traseiro. Eu na verdade, vim falar de quem está por trás dessa crise toda. Sim amigos, existe um poder causador disso tudo. Desde o começo, é possível ver esse poder agitando as coisas para a doença aumentar, se expandir; desde até 2020, talvez até antes, vemos esse sujeito oculto agindo, criando todo o contexto para que crises com a de Manaus, a de Macapá no ano passado, e até mesmo toda essa tolice que estamos passando na espera pela vacina, sejam ainda maiores do que normalmente seriam. 

O nome deste agitador, deste criminoso, é a própria população brasileira. 

Palavras fortes? Como dizer então, das pessoas que se juntaram para reclamar de uma abertura em Manaus, coisa de duas, três semanas antes desta crise toda acontecer? E das pessoas que se aglomeram nas praias no Rio de Janeiro, da Baixada Santista, e tantas outras ao redor do país? Ou quando abre uma loja de roupa, e as pessoas resolvem fazer fila , em plena pandemia, para comprar coisas que não são EM ABSOLUTO essenciais? Ou que tal as pessoas que agora, neste momento, estão já se ajeitando para a festinha de domingo, que já planejaram tudo para quando a polícia vier, fazerem silêncio, para evitarem prisões e dispersão da comemoração maldita? 

Veja, não falo aqui dos trabalhadores que são forçados a ir lá fora, enfrentar este vírus maldito, e trazer
o pão para casa, para sua família. Nem falo aqui das que toma todo o cuidado do mundo e frequentam suas "bolhas de proteção" do covid (expressão nova que temo que vá ficar conosco por um bom tempo). Falo aqui das muitas pessoas que resolvem sair, sem o menor cuidado, e se esfregar umas nas outras, crendo-se imunes, invencíveis. Claro que pensam assim: todo idiota pensa que é invencível. Mas além de imbecis, essas pessoas são desprovidas de qualquer empatia, posto que não se importam, aparentemente, de passar a doença para um vizinho, um amigo, um familiar que esteja mais debilitado fisicamente, e que pode não ter a sorte de ser assintomáticas como nosso criminosos transmissor. 

Bolsonaro é um criminoso com certeza; primeiro por estar associado com milícias e pela própria pessoa que é, em seguida por estar menosprezando a crise que o brasil enfrenta simplesmente porque não consegue aceitar estar errado. Mas para ele chegar lá, tivemos milhões de criminosos juntos, votando nele, aceitando seus desmandos, de fato até aplaudindo eles, porque estavam "ganhando". Como se a vida de um país fosse um jogo de futebol. E agora, eles continuam, com suas fake news, suas atitudes idiotas e sua total falta de caráter. E isso está causando mortes. 

O sangue de mais de 200 mil brasileiros está na mão de vocês que fizeram isso, não importa as mentiras que contem para si mesmos e para os outros. 


quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

Crônicas do Novo Normal: A reforma eterna




O vizinho de cima bate bate bate o martelo, enquanto escrevo este texto agora à tarde. Ou talvez seja o de baixo, não sei bem, confesso que são tantas marteladas que posso ter perdido o senso de direção um pouco. Quem quer que seja, não se pode queixar de sua pontualidade e obstinação: ele começa a martelar forte exatamente às 9 da manhã e assim segue até umas 17 e vinte, quando começar a martelar de leve num esforço vão de parecer que não está fazendo barulho. 

Quem está lendo esta crônica pensa: ora Alfredo, ele deve estar ajeitando a casa num momento pós-pandemia! Não foi você mesmo que disse que devemos olhar para frente , etc e tal? E eu digo para você que sim, eu concordo, mas que o vizinho não está reformando desde o começo de 2021; ele está na verdade martelando desde 2018, ano em que me mudei! Agora as coisas estão um pouco mais intensas, mas as marteladas são uma característica deste bloco do condomínio desde que nos mudamos. 

Ou talvez eu esteja sendo injusto: afinal, também houveram os momentos da furadeira, das desmontagens de algo que caia no chão o tempo todo, do som de móveis sendo afastados, do cheiro de tinta que misteriosamente aparece no meu banheiro sem ele sequer estar sendo ajeitado.... A lista segue intensa, e interminável. São tantos os barulhos, que eu meio que já consegui fazer uma lista dos meus favoritos, o big hits "Barulhos do vizinho": Em primeiro lugar está os móveis desmontando (que pelo menos ecoam menos pelo nosso apartamento), e em último a furadeira, óbvio, porque a própria parede vibra junto. 

Com certeza você que me lê deve ter passado por algo parecido, e deve ter tido sua estratégia para lidar com isso; de minha parte, tentei ligar para pedir silêncio, o que funcionou um pouco. Mas agora, eu confesso que virou uma espécie de trilha sonora incômoda de certos dias da semana (em especial Sábados). Então sigo minha vida de projeto de escriba e professor, enquanto o vizinho bate bate bate, não na porta do Céu, mas na sua própria, possivelmente mudando ela por outra. E assim seguimos vivendo. 


terça-feira, 12 de janeiro de 2021

Crônicas do Novo Normal: Physical, Physical


A vida em cativeiro moderno devido ao Covid tem suas vantagens e desvantagens, e um dos principais obstáculos é se manter em forma. Não que não fosse antes: não vou vir aqui e mentir para o amigo/a leitor/a dizendo que eu era o praticante implacável de exercícios no pré-covid, mas eu tinha minhas idas (raras) à academia aqui do condomínio, sempre favorecendo a esteira porque eu podia ouvir música enquanto me exercitava. 

Ai de mim, esses tempos se foram, e agora eu precisava me exercitar aqui, no conforto do meu apartamento. Ou pelo menos essa era a ideia, e de fato foi uma ideia que gostei muito. Gostei tanto que resolvi deixar ela de lado e ficar observando todo dia, ternamente, mas nunca agir em cima daquilo. E com isso o tempo foi passando, e o peso foi aumentando...

Ou melhor, era o que devia ter acontecido; pois o que se sucedeu foi algo muito inusitado, que foi eu perder peso durante a quarentena. dos quase 80 1uilos que eu estava (chegando muitas vezes a 81 quilos), me vi caindo para 75, 77 quilos! E tudo isso, sem fazer absolutamente nada, exceto alimentação mais saudável e comer mais frutas. Aparentemente, os lanches que eu comia saindo do trabalho em Itaim Bibi não eram os mais saudáveis possíveis.

Ainda assim, a necessidade do exercício se fazia presente, quanto mais não seja para fins cardíacos, etc. E, como toda boa ideia em minha vida, o princípio das ações vieram de minha amada esposa, Aline Garcia. Pois ela baixou um aplicativo com o nome da Nike, que aparentemente vai coordenando os exercícios para suas necessidades. No princípio, homem sabido que sou, escapei, fingia que ia lavar uma louça, ou que ia buscar um pacote na portaria. Logo os subterfúgios sumiram, e fui fisgado 

 Eis então, amigos, que não houve escapatória: e desde então estou com ela, exercitando glúteos, coxas e abdômens, e francamente odiando cada minuto. Não por nada, é que eu sinto que a voz robótica do celular está zoando comigo, mesmo que Aline diga que é impossível. Mas quando a voz fala "Só mais 10 segundos!" ou "Lembre-se de levantar bem a perna!", não posso deixar de notar que tem um certo tom de sarcasmo ali . E outra coisa, pra ela é fácil dizer, ela não tem perna!

Enfim, seguimos por aqui assim. Mente insana em corpo são amigos!

 

sexta-feira, 8 de janeiro de 2021

Crônicas do Novo Normal: Pés de Barro




Essa semana, um grupo de pessoas apoiando um homem rico a  se manter no poder tentaram tomar de assalto o congresso dos EUA. 4 pessoas morreram por causa disso. E pelo quê? Toda uma vida de sonhos, batalhas, sorriso, terminadas abruptamente, por uma causa que nem vale a pena. Uma luta travestida de ideais que na verdade só se importa com vencer um inimigo inexistente.

Infelizmente, o problema não é só nos EUA, e na verdade, sendo bem justo, nem sequer se limita à questão política: as pessoas em geral tem se dedicado demais a questões que simplesmente não tem qualquer valor além de algo efêmero. Não saberia dizer o motivo exato disso, mas posso dizer que com certeza é um fenômeno antigo. Antes de se atracarem em questões polítiquentas (que são diferentes de questões políticas, já que política se faz a qualquer momento do seu dia), as pessoas idolatravam ainda mais o capital; antes disso, a religião, e por aí vai. 

É realmente como se a grande massa precisasse de uma espécie de guia para seus ímpetos. Ou talvez, seja a necessidade de alguém que justifique seus instintos. Nunca devemos nos esquecer que ao fim e ao cabo, somos animais ainda. Mentes desenvolvidas, mas com pé no passado primal. A grande luta da humanidade tem sido superar essa animalidade ancestral, mas talvez nem estejamos enfrentado isso com a força necessária. Basta olhar nos jornais, e veremos retratos claros de indivíduos que se renderam aos seus caprichos bestiais. 

E no entanto, eu acredito firmemente que nós, como espécie, podemos superar este lado brutal, hediondo, e lembrar-nos do que nos faz ascender, do que nos levou à maravilhas. O termo Humanidade, hoje em dia, é quase uma paródia do que deveria ser: nosso piores excessos tornaram-se a regra, e não a exceção. Eu creio que podemos superar esses horrores, e construir um mundo melhor sem ídolos de pés de barro, mas com base na centelha divina dentro de nós mesmos. 

Se o mundo está desse jeito que está, a culpa é de um esforço conjunto nosso, humano, para deixar ele assim. Se ele for consertado, está claro, terá de ser através do mesmo esforço conjunto. Mas como fazer isso? Qual o caminho? Longe de mim me apontar como o guru para curar o mundo: esse é um papel que só uma pessoa fez certa vez, e ainda penduraram o coitado numa cruz a marteladas. No entanto, se todos nós olharmos um pouco para os nossos dias, acho que dá poderemos ver um padrão bem claro. 

terça-feira, 5 de janeiro de 2021

Crônicas do Novo Normal: Estresse Pós-Traumático nosso de cada dia

Fonte: https://www.nationalgeographic.com/healing-soldiers/


O leitor atento perceberá que o título destas crônicas não são mais "da Cidade Pandêmica", e sim "do Novo Normal". A princípio, eu pensei em não falar nada a respeito e simplesmente seguir em frente; ironicamente, seria a melhor homenagem possível a estes novos tempos que vivemos, já que foi exatamente o que fizemos a respeito. Mas eu refleti um pouco sobre, e decidi que seria uma boa tentar demonstrar um pouco minhas razões para esta mudança. Ou pelo menos, uma razão em especial. 

Contemplem: 2021. Em março deste ano, aqui no brasil, vai fazer um ano que toda esta insanidade começou, toda essa questão de lockdown, pandemias, desrespeito, solidão intensa, mortes e lágrimas. Não preciso dizer nada sobre isso: o leitor certamente vivenciou tanto quanto eu estes dias, quaisquer que sejam seus pontos de vista a respeito. Foram dias que um choro a qualquer momento tornou-se comum, onde a qualquer momento arriscava-se ouvir da morte de um parente pelo Covid, ou uma pessoa próxima. 

Muitos dirão: mas a morte acontece a todo momento, agora que você se preocupa com isso? E eu digo que só fala isso quem nunca sentiu o peito fechando, o seu próprio pulmão traindo você, enquanto aos poucos você afoga-se em si. Quem tem problema pulmonares sabe bem do que falo, e o Covid é isso potencializado a mil. Não se engane: a morte por corona é possivelmente uma das piores, e quem consegue se recuperar relata as sequelas como pesadas: fibroses pulmonares, déficits cognitivos, insuficiência cardíaca. 

Eu digo tudo isso, e sei que o leitor lê com uma preocupação quase tão grande quanto a que dirige a um arranhão no carro, ou quem sabe à possibilidade de passar mal quando come algo na rua. Não se sinta envergonhado/a por isso: eu mesmo me senti assim. Aliás, creio firmemente que todos no brasil estão assim. E a razão é muito simples: nesse momento, somo veteranos, de uma, duas, mil guerras psíquicas. Nosso campo de batalha é a nossa mente, e os invasores são as notícias, os acontecimentos ruins, o mundo ao nosso redor. Quantas vezes você desligou a TV, porque não aguentava mais? Ou se deixou levar pela doce ilusão que as coisas eram menos piores que pareciam, que só ia durar 40 dias, que tudo ia voltar ao normal? 

Bem, eis a nova lição de 2021: As coisas não vão voltar mais ao normal, porque esse é o Novo Normal. Não o que falam na mídia, as lojas reabrindo, os cuidados higiênicos, etc. Esses também fazem parte, mas são mais panos de fundo que os elementos em si. A realidade que temos agora são pessoas terrivelmente afetadas por todo o país, seja diretamente ou indiretamente, pelo Covid. Temos a morte como cotidiano, mais do que nunca; temos médicos na linha de frente exaustos, e vendo seus esforços ridicularizados pelos negacionistas da crise, nosso presidente incluso. 

E quando a vacina vier (e está vindo, disso não tenho dúvidas), e pudermos sair mais tranquilos por aí, todas estas crises e traumas estarão andando por aí, em forma de pessoas, assombrando o mundo. 

Este é o Novo Normal. Bem vindos. A questão é: o que vamos fazer a respeito? 


domingo, 3 de janeiro de 2021

Crônicas do Novo Normal: Cínicos cidadãos




2021 começou a dois dias, e já percebemos algumas diferenças. Nesse momento, possivelmente já se erguem as vozes a comentar: como assim?! Que diferença existe em apenas dois dias, escriba enxerido? Pois eu digo que já existem sim, e você faça o favor de se aquietar e ler meus argumentos antes de se revoltar. Segue abaixo. 

É claro que as coisas não melhoraram, nem pioraram: na verdade tudo continua como antes no quartel d'Abrantes. o presidente do brasil ainda é o mesmo imbecil (que inclusive fez em Praia Grande o que faz de melhor: nada); a Covid ainda está por aí levando pessoas queridas e outra nem tanto, mas de qualquer forma ceifando vidas e deixando famílias arrasadas; a crise econômica está aí vindo a galope, tal qual uma deslizamento de terra após uma chuva (que aliás já aconteceu no Rio, inaugurando o bingo das coisas óbvias no Brasil). 

O que mudou então? Ora, mudamos nós; ou melhor, talvez tenhamos simplesmente voltado a um estado de espírito anterior, graças a nossas experiências do presente. Explico: a um certo tempo, temos nos mostrado cada vez mais assoberbados, emudecidos, quando algo de ruim acontece no mundo em geral, mas aqui no Brasil em particular. Como assim aconteceu essa tragédia das queimadas no Pantanal? Como assim, o presidente se recusa a reconhecer a doença? Como assim, um assalto a banco com armas pesadíssimas deixa uma cidade toda de refém? 

Quando um vivente machuca muito uma parte do corpo, ali cria-se um calo, e portanto fica mais resistente; assim ocorreu com a alma do brasileiro. Não mais nos surpreendemos com as coisas, simplesmente ficamos decepcionados e seguimos em frente. Isso de certa forma é triste, porque denota uma perda de inocência (pouca que fosse) do cidadão, que acreditava em coisas tolas como regras e acreditar que havia limites para a absoluta falta de vergonha dos que estão no poder. 

Vã ilusão: e agora que sabemos disso, nos é possível seguir em frente de maneira mais tranquila. Essa tranquilidade, é claro, vem do desespero mas também um pouco da experiência, de saber que o caso que nos cerca não é realmente aleatório, ao contrário, segue uma lógica horrível, mas previsível. Entçao quando, por exemplo, Bolsonaro aparece defendendo a absolvição de Lula, já sabemos que é porque ele quer algo ali na frente; quando vem a notícia de pouquíssimas seringas e agulhas adquiridas pelo governo federal para as vacinas, já sabemos que o próximo passo é os governos estaduais agirem em cima dessa demanda. 

Eis a nossa força para 2021: a absoluta falta de choque com os absurdos do nosso país. Que isso sirva não como desculpa para não fazer nada, mas sim como um dado para planejar os nosso próximos passos. Afinal, quando a mão de cartas é ruim, aí é que entra a arte do jogo de viver. E que tenhamos a magnitude de Diógenes para, quando perguntados sobre o que queremos do Poder, simplesmente pedir que saiam da frente de nosso sol.