terça-feira, 3 de novembro de 2020

Crônicas da Cidade Pandêmica: Descanse em Paz, Louro José.

Fonte: Site revista Capricho

Difícil dizer o que afeta mais a gente em certas mortes de famosos. Pois no fim das contas, nem sequer os conhecemos: temos a ilusão de conhecermos essas pessoas, de sabermos seus gostos, seus dissabores e problemas... mas não sabemos realmente quem são elas. O que temos em mente, são somente imagens, muitas vezes idealizadas, de quem elas verdadeiramente são. O real é inalcançável para quem não conhece mesmo o indivíduo. 

A coisa muda de figura, por certo, quando tratamos de pessoas que são, em si, conhecidas pela sua forma mais idealizada. e isso, a gente entra numa série de outras coisas, com certeza, mas eu creio que fica muito forte com personagens infantis. Porque nesse universo, o simbólico, o lúdico, é forte demais; então tudo que é criado pensando esse público, tendo esse foco, sem tem sucesso, é porque se concentra mesmo nessa questão. Talvez por isso, apesar de minha esposa e tantas outras pessoas terem horro a palhaço, ele ainda seja uma figura tão forte no imaginário infantil: o que está ali é menos uma pessoa e mais, muito mais, um símbolo da brincadeira, da diversão. leveza mesmo. 

O leitor já deve saber, até mesmo pelo título, que estou falando disso hoje por causa da morte de Tom Veiga, o manipulador e intérprete do Louro José, uma figura clássica de mais de 20 anos nas telas brasileiras. Um homem novo, levado tão cedo pelo AVC, esse inimigo invisível. E é claro que o mais cínico de nós pode levantar e dizer "ah, mas agora todo mundo que morre é santo!", e talvez ele o fale com uma certa razão, mas não nesse caso. O programa Mais Você de Finados, foi particularmente sensível e emocionante nesse sentido, de homenagear o homem e o personagem, ambos levados tão cedo pro mundo da saudade. Sim, também o Louro José , pois é até imoral pensar em se pôr um novo intérprete no boneco, pois ao que se vê, Tom Veiga era o Louro , e vice-versa.  

 Por isso, não me sinto errado em desejar um bom descanso eterno para o homem e o personagem. E também minha palavra de consolo, não só para os membros da equipe do programa (que duvido que leiam isso), mas para quem se sente triste mesmo, e não acha que deveria se sentir. Eu acho que todo sentimento que não machuque outra pessoa é válido, e também acho que a tristeza por essa morte tão repentina, é também de certa forma um lamento pela morte de um pedaço do nosso passado, que tomávamos como certo e que agora foi-se de repente. Não só um boneco: um símbolo de tempos menos tristes em nossas vidas, talvez. 


Descanse em paz, Neilton Veiga Júnior / Tom Veiga / Louro José. As manhãs com certeza serão mais cinzas sem você. 

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