quinta-feira, 9 de julho de 2020

Crônicas da Cidade Pandêmica: Eterno Retorno


A Persistência do tempo, de Salvador Dali

O passado é o futuro. Sempre foi. Quem estiver dizendo algo diferente, está vendendo algo errdo para você: tudo se repete. Um ciclo de eventos que se repetem ad nauseum, até um derradeiro "fim", e depois tudo recomeça outra vez, incontáveis vezes. 

Eis um pensamento um tanto controverso, e muitos diriam até, pessimista. "Estamos então, condenados a viver sempre os mesmos erros, caro escriba?", já ouço alguns fieis leitores dizendo, e de fato,não estamos;em geral, porque muitos tem a sorte de partir deste mundo antes do ciclo se reiniciar. Os atores são quase sempre novos, no nosso eterno retorno; a peça, porém, é a mesma, intoxicante e perigosa, em mais de um aspecto. 

Por que perigosa? Nem é preciso realmente dizer, não? Os perigos do passado, os horrores, sempre vão voltar. Às vezes nem precisamos esperar muito: embora não seja em grande escala, os erros do passado sempre voltam, em algum ciclo local. Uma cidade, uma casa, uma escola. Sempre nos assombrando esses fantasmas... e no Brasil, como há fantasmas! Racismo, violência sexual, preconceito em geral... tantas assombrações, e sempre em todo lugar. 

Finalmente, por que intoxicante? Porque com os erros, também vem s acertos. Cada horror traz em si o germe de sua própria derrota, e nunca se tarda muito em encontrar este germe. E conseguimos nos livrar desses fantasmas, por hora; mas ficamos complacentes. Achamos que nunca mais vai acontecer. Este também é um erro cíclico, clássico; Sempre achamos que agora nós aprendemos. Que a infâmia nunca mais voltará, que tudo ficará bem agora. 

Ledo engano. Renato Russo já nos dizia: O terror continua, só mudou de cheiro, e de uniforme. E nossa, deve ser a Vigília Eterna. 

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