quinta-feira, 21 de outubro de 2021

Crônicas do Novo Normal: Carta ao meu vizinho de cima, martelador de pisos


Prezado:

3 anos seguidos que você faz reformas. Eu sei disso, porque cheguei aqui a 3 anos, e você já tinha acabado de se mudar também (junto comigo - será o karma de algo que fiz?), e então começaram as reformas, os arrastares de móveis, o caos. Não tente negar: todos nós , desgraçados que somos em ser seus vizinhos, ouvimos com total detalhes seus barulhos, as marteladas incessantes, os pisos sendo colocados (ou tirados, sabe Deus). 

No começo foi apenas um arrastar aqui e ali de móveis. Eu entendi como algo habitual, afinal, não era meu primeiro rodeio vivendo em prédios, ademais, você tinha acabado de se mudar; é evidente que alguns móveis teriam de ser arrastados, e quanto a isso não havia remédio. De sorte que fiquei aguardando passar esse tempo de barulhos. 

Só que não passou, não é mesmo? Depois disso vieram as furadeiras nas paredes, as galopadas pela sala de estar (presumi que fosse seu filho e aí descobri que você só tem um bebezinho que ainda não anda, então fica o mistério). Sem Contar  meu favorito: quando a noite, você insiste em dar uma marteladinha assim, como quem não quer nada, na esperança que nenhum de seus vizinho ouça e se incomode. Pois saiba que ouvimos sim.

Esse texto foi escrito com base no ódio de você, meu caro vizinho, ter martelado e furado uma parede hoje, ao mesmo tempo (!), feito que me seria notável se não fosse basicamente algo que me atazanou a cabeça e quase me impediu de dar aulas. Sim, porque trabalho com aulas online, meu caro, e também sei que seu vizinho do lado trabalha com telemarketing. Esse deve realmente ter uma raiva de você, aconselho não pegarem o mesmo elevador se puder evitar. 

Eu dizia que o texto veio na base do ódio, mas confesso que tenho piedade por você, meu caro. Uma pessoa que faz reformas incessantemente por 3 anos seguidos, deve ter algo que está tentando resolver em si mas que não consegue identificar, então externaliza isso em mais um novo piso, uma nova parede, uma tinta nova para o quarto. Como será que sua esposa e bebezinho olham essa bagunça incessante, vizinho? Será que um dia você vai preencher esse vazio que lhe atormenta no coração, e que você pensa que vai ser preenchido pelos ladrilhos novos?

Desejo-vos paz na caminhada, vizinho de cima. E aceitação ao seu apartamento, algo que fará nós dois felizes, te garanto. 

Um abraço do

                                Vizinho de baixo. 



Nenhum comentário:

Postar um comentário