Fonte: Revista Fórum |
Ultimamente eu tenho lido muito. Sempre fui um apreciador de livros, mas obviamente por causa da pandemia, o tempo livre para leitura tem aumentado bastante, e eu aproveito isso o melhor que posso. É fato que a maior parte dos textos que eu tenho lido são, basicamente, acadêmicos; tenho trabalhado um pouco em uns projetos de pesquisa que espero realizar nos meses vindouros. Mas também tenho lido muitos livros mais, digamos, ficcionais, e em um deles, chamado Dalva (do escritor Jim Harrisson), me deparei com uma frase que eu gostaria de dividir com você que me lê:
"A Infância é o Jardim do Éden da nossa memória."
Acho que não preciso explicar muito porque essa frase me impactou, dada a auto explicação disso pela qualidade da escrita ali. Contudo, acho que tenho que discordar um pouco do que o autor falou; è menos a infância, talvez, e mais o passado que é esse Éden perdido, em algum lugar, após nosso pecados nos afastarem desse paraíso - imaginado, talvez, mas nem por isso menos real em nossos corações.
É engraçado como isso se aplica tanto a pessoas quanto a lugares: por mais deturpado que pareça, a idolatria a um passado glorioso é algo que faz parte de muitos países, regiões, estados. Neste sábado atearam fogo no Borba Gato de Santo Amaro, um "gigantesco boneco a olhar indiferente para a cidade", nas palavras da Folha de São Paulo em 1963, data da inauguração do monumento.
Diga-se o que disser sobre a obra em si - eu particularmente acho a estátua horrorosa - mas é inegável que o motivo dela existir, junto com todas os outros monumentos aos bandeirantes ao redor da cidade e do estado, é essa ânsia de uma glória perdida. Os defensores destas obras, estou certo, sentem que a glória passada é algo que está bem ali, que talvez se nos "esforçarmos", possamos recuperar... e às favas todo o sofrimento humano que ocorreu pelas mãos desses homens, toda a morte e dor que eles causaram. O que vale é a vitória!
São pensamentos perigosos e que podemos argumentar que tem muito peso no caminho que traçamos até o atual desgoverno que temos; e não posso deixar de pensar o quanto isso ocorre em nível individual ao redor do estado, do país, do mundo. Quantas pessoas vivendo de um passado nostálgico, que na verdade foi algo terrível, doloroso? Quantas almas se enganam que as coisas "eram melhores antes", ignorando todo o sofrimento que tiveram?
Chega do Éden perdido. Sigamos para nosso Êxodus.
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