domingo, 13 de fevereiro de 2022

Crônicas do Ano do Tigre: A Paz Verde



Eles existem, estão espalhados por aí: os pequenos bolsões de paz na selva urbana. Ou médios, pelo menos: Alguns nem tendem a ser tão pequenos assim , mas certamente não tem nada de grandes - talvez porque isso acabe diminuindo o impacto das coisas, de certa forma. 

Podem ser parques, praças, ou até mesmo uma rua em especial: mas é ali que se sente algo especial, um descanso do correr frenético e cansativo. Quando cheguei aqui em São Paulo, por incrível que pareça, esse lugar de paz era uma rua sem saída, onde ao fim há uma árvore gigante. Fica em frente a um condomínio, e perto de uma avenida, mas ainda assim nunca vi um silêncio se aproximar tão rápido, como se a árvore fosse ela mesma um ímã do silêncio. Sempre vou lá quando posso, com minha esposa, buscar um pouco dessa tranquilidade.

(Madrinha, é como chamo a árvore. Sou bicho-grilo mesmo, dou nome para as coisas)

Com o tempo, fui encontrando outros lugares, alguns óbvios ( a biblioteca da CCSP e sua gibiteca, é claro), outros nem tanto (por algum motivo, a rua ao lado do hospital Santa Catarina, na Avenida Paulista, me dão uma paz tremenda!)... mas em todo lugar de São Paulo, eu fui montando estes pequenos santuários pessoais, estes lugares de reenergização. Tudo isso para minha grande surpresa: não esperava isso de uma cidade tão grande como aqui. Talvez eu tivesse uma visão errada quando vim para cá. 

Em Belém do Pará, por 27 anos meu lugar de paz era uma avenida toda: a Gentil, lugar onde ficam tanto minha biblioteca favorita quanto muitas memórias de jovem. Quantas vezes não voltei no ônibus, o calor intenso no coletivo de janelas fechadas para a chuva não entrar, mas ansioso para chegar em casa e ler os livros emprestados do Centur? Estas são, talvez, uma das mais fortes memórias que carrego em meu coração de minha cidade natal. 

E ontem, no sábado, quase pude reviver estas mesmas memórias de descoberta de paz, quando fui com minha esposa no parque Severo Gomes, um lugar tristemente cercado por um bairro rico (e portanto distante da realidade do bravo povo à margem aqui do meu bairro, por exemplo), mas tão poético que chega me dói o coração de lembrar. Crianças brincam e comem em picnics ali, e há trilhas: ao longe o som do riacho restaurado pela ação do Estado. O calor do dia completamente reduzido pelas árvores.... é um paraíso, amigos. Gostaria que todos que moram aqui em São Paulo pudessem ir lá e desfrutar, garanto que pelo menos relaxados vocês saem. 

Mas nem todos tem o mesmo caminho de paz - e portanto nem todos tem o mesmo jeito de montar estes santuários. Então, a pergunta que fica é: 

Quais são seus lugares de paz na sua cidade? 

Um comentário:

  1. Tem uma estrada de chão perto da minha casa que cruza caminho por lagos, sítios, plantações e sai direto numa rodovia. Faço caminhada por ali quando posso, passando por debaixo das árvores, pelas muros floridos, inalando aquele doce cheiro petricor.

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