segunda-feira, 19 de outubro de 2020

Crônicas da Cidade Pandêmica: Reflexão X



Sou um nerd velho. Não um geek: isso é termo de quem tem vergonha do que é na verdade. Um nerd. 

Esse termo, nos últimos anos, tem sido carregado de sentidos ainda mais pejorativos do que era na minha época jovem. Antigamente, você ser um nerd implicava em bullying, em rejeição pela sociedade geral, em zer zombado por meia escola. Nunca esqueci quando fui motivo de chacota, ainda na sétima série (o que hoje em dia equivale ao oitavo ano), porque estava fascinado com o anime Dragonball Z. "Você tá sendo ridículo", meus colegas disseram, e riram na frente da sala. Tenho 32 anos hoje, e a memória disso ainda é clara. Hoje em dia, acredito que as feridas do passado são as mais fundas, porque nunca são curadas direito. 

Mas eu cresci, e tal como é dito no livro de Coríntios, deixei para trás as atitudes próprias de criança. Contudo, nunca mudei meu espírito empolgado com as coisas nerds: filmes, jogos, quadrinhos. Esse último, na verdade, sempre teve e , acredito, sempre terá um espaço especial em meu coração, pois as lembranças de ler uma revista (no papel jornal da editora Abril) enquanto a chuva caía lá fora, na minha terra natal, é algo que terei como um tesouro mental pelo resto de minha vida. 

Quando falamos de quadrinhos, sempre temos um personagem favorito. os mais jovens, tendem a gostar dos heróis que apareceram nos filmes mais recentes: Capitão América, Hulk, Homem-Aranha. Quanto a mim, também tenho alguns favoritos, mesmo entre esses que citei acima; mas confesso que desde muito cedo, me identifiquei com o grupo de mutantes favorito da Marvel, os X-men. 

Por que? Eis uma pergunta que me parecia difícil de entender antes. Com certeza a animação dos anos 90 ajudou bastante; Afinal, era a atração principal na Tv Colosso, o programa de desenhos da TV Globo. Também a assinatura de revistas que meus pais fizeram para mim (que deus os abençoe por essa escolha!) foram fundamentais para essa preferência, afinal, o pacote tinha as revistas do Hulk, e dos X-men como partes integrantes. 

Mas eu creio que sempre houve, também, um fator que talvez eu nem sequer suspeitasse antes, algo profundo e forte em meu coração: eu era um isolado. Os X-men não são heróis comuns: são um grupo rejeitado pela grande sociedade, e ainda assim tentando seguir sua vida, e até mesmo fazer o bem. os rejeitados do mundo sempre se encontram e , de alguma forma, se unem numa carapaça para protegerem-se das dores da sociedade comum. nesse sentido, X-men foi (e talvez ainda seja) a representação dos malditos nos quadrinhos, dos escurraçados. 

E também tinha um personagem que era líder e usava óculos. Isso era fundamental. A mim, meus x-men! 



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