Stephen Jay Gould, um paleontólogo famoso, disse certa vez que se importava menos com o peso e as características específicas do cérebro de Einstein, do que na certeza quase absoluta que pessoa com igual talento nasceram e morreram trabalhando em campos de algodão e fabricando bolsas baratas para consumo nocivo. Eis uma frase que nos faz pensar: a perda de talentos e potenciais para coisas menores, graças à arrogância da humanidade em acreditar mais em um valor imaginário que em um bem real.
Mas eu pensei nisso muito esses dias, não por estar lendo qualquer coisa sobre Einstein ou sobre Gould, mas sim porque me peguei pensando sobre as perdas de vida que aconteceram esses tristes dias de Covid-19. Mais de 157 mil pessoas. O impacto disso no mundo, nas vidas. A morte de uma pessoa, dizem, é como uma pedra num lago, sendo jogada e causando ondas em seu arremesso, energias de sofrimento sem fim. A morte de 157 mil pessoas, então, seria como um caminhão de pedras, arremessados todos os dias em um lago, até ele transbordar, soterrar, e sumir, morrer.
Fico pensando, à noite, em que tipo de mundo virá quando isso tudo acabar. Não a economia, quem se importa com ela? Essas coisas vem e vão, direto, sem parar, ainda mais num país tão sem equilíbrio quanto o nosso. As pessoas porém. elas nunca voltam; apesar do que as religiões nos mostram (mesmo as que acreditam em reencarnação), a mesma pessoa nunca volta. 157 mil histórias perdidas no tempo da praga, soterradas pelo riso e escárnio de quem nem sequer se importa.
Este é o país que virá, uma grande necrópolis. um grande vazio a ser preenchido. e eu não creio, não consigo crer, que o que virá preencher isso vá ser melhor do que tinhamos antes deste ano terrível de 2020. Eis o meu brinde (antecipado) para 2021: se não pudermos ser melhores, que sejamos ao menos, não-piores.